Publicado em: 15/11/2024
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A natureza pulsa onde a onça bebe água

Entre uma área de cerca de 550 m², do Parque Grande Sertão Veredas às Cavernas do Peruaçu, projeto contemplado via Semente registra número expressivo de onças-pintadas e pardas, além de diversas outras espécies ameaçadas

Por entre veredas repletas de buritis, nascentes de águas límpidas e o cheiro – e calor – do sertão pairando no ar transparente quase azul, caminham onças-pretas e pintadas. Nesta época do ano, a partir de novembro, todo o azul do céu que compõe a paisagem do Cerrado nos mais de 230 mil hectares do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, transforma-se em nuvens de chuva. Com a água a cair por vezes tímida, o clima seco torna-se mais ameno e a biodiversidade da região, pulsa. Desassossega-se. Nas matas a se perderem de vista, além de onças, vivem pumas, antas, tamanduás, veados, cutias, queixadas, perdizes, seriemas e cerca de 40 espécies da ameaçada fauna brasileira.

Seus caminhos valem registros: a quantidade e variedade citadas são resultado da primeira triagem de boa parte das 33 câmeras trap – equipamento que fotografa o animal ao detectar seu movimento e/ou calor – utilizadas no projeto “Onças - Guardiãs do Sertão Veredas-Peruaçu”, contemplado neste ano por meio do Semente. Somente cinco meses após seu início, foram registradas 25 imagens de onças-pardas (pumas), nove de pintadas e uma de onça-preta, entre tantas outras. As câmeras estão instaladas desde o Parque Sertão Veredas, com acessos por Chapada Gaúcha, munícipio mineiro onde hospedaram-se integrantes do Semente, até a Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu. Em dezembro, a tendência é realizar a segunda campanha de decupagem dessas câmeras, inclusive com alguma expectativa de serem flagrados outros animais de ocorrência rara.

Unidade de conservação de proteção integral, o Parque não permite a presença de moradores e comunidades tradicionais podem ser encontradas no seu entorno. Diante disso e da localização predominante no noroeste de Minas Gerais, quase na divisa com os estados da Bahia e de Goiás, espécies “guarda-chuva” ou topo da cadeia alimentar, caso da onça-pintada, sobrevivem em meio ao desmatamento do Cerrado e à rápida conversão das áreas naturais do bioma em extensos monocultivos na região. Quanto maior a extensão dessas áreas, com recursos hídricos preservados, mais chance para o animal. E, protegendo o seu habitat, preserva-se as demais espécies animais e vegetais ao seu redor. Isso significa que mesmo o único predador (não-natural) dos felinos, o “bicho-homem”, ganha vida com a conservação dos recursos e consequente presença do animal.

“Panteras negras”

O termo remete a um super-herói e não é o nome da espécie: “pantera negra” é abrangente e se refere a qualquer grande felino de coloração preta. A condição é causada pelo gene agouti, responsável por regular a distribuição do pigmento dentro da haste do pêlo. É mais conhecido nos leopardos, habitantes da Ásia e África, e nas onças-pintadas, especialmente as que vivem no Grande Sertão Veredas.

“O ‘Veredas’ abriga a maior porcentagem de melanismo em uma população de onças-pintadas em qualquer região no planeta – as imagens inéditas, inclusive, registraram novos indivíduos”, ressalta Carlos Eduardo Nóbrega, biólogo do proponente Onçafari. Desde 2018 com ações no Parque, a associação passou a atuar mais diretamente no lado mineiro, onde ele se concentra majoritariamente, com a contemplação do projeto. Daí também sua importância, ao registrar a presença desse e outros animais em áreas protegidas onde antes não havia tal monitoramento.

Até o começo da iniciativa, haviam sido registrados de 26 a 31 indivíduos entre as áreas do Parque e da Trijunção, sendo cerca de 44% onças-pretas. Essa porcentagem pode ser inferior a 10% na distribuição geral da espécie. É nos mistérios envoltos na vastidão desse universo inspirador aos personagens e à obra de Guimarães Rosa, que exemplares do “bicho-homem” – sabe-se lá se estão também em extinção – insistem em transformar suas experiências em aprendizados. Porque, como bem disse o escritor no romance que dá nome ao Parque, “o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando”. Que seja assim, diante da natureza.

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O Semente é hoje o maior banco de projetos socioambientais de Minas Gerais. Iniciativa do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (CAOMA) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em parceria com o CeMAIS, a plataforma virtual conta com amplo acesso em todo o Estado e recebe propostas de instituições do terceiro setor.

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Por Lucas Rodrigues/Semente

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