Principal fonte de abastecimento hídrico de Belo Horizonte, Rio das Velhas sofreu redução do volume de água disponível para a população
Desde sua nascente, na Cachoeira das Andorinhas, em Ouro Preto, o Rio das Velhas percorre o coração de Minas Gerais por 801 quilômetros até desaguar no São Francisco como seu maior afluente. E, no caminho, abastece Belo Horizonte e a Região Metropolitana: 71% da população da capital usa sua água nas torneiras, assim como 45% dos moradores da RMBH. No entanto, a Bacia do Velhas enfrenta sérios riscos devido às atividades de mineração e às mudanças climáticas, e são necessárias ações imediatas para que o rio siga vivo.
Estes são alguns dos resultados obtidos pelo projeto "De Olho No Velhas", proposto pelo Instituto Fórum Permanente São Francisco. Durante 14 meses, foram coletados dados diversos na área do Alto Velhas, entre a nascente em Ouro Preto e Raposos, com a análise das vazões fluviométricas e das precipitações pluviométricas. Os números foram comparados com registros históricos mantidos pelas estações de água da bacia para identificar anomalias e tendências hidrológicas e avaliar os riscos à segurança hídrica na região.
Os relatórios foram apresentados na última quarta-feira (24/9), na sede do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM), que fica na Cidade Administrativa Minas Gerais. O engenheiro Euler Cruz, que ficou à frente do projeto junto da engenheira Marcia Boechat, falou sobre os resultados obtidos:
"No ponto da Estação Honório Bicalho (distrito de Nova Lima), houve redução de 13,26% na vazão do Rio das Velhas nos últimos 26 anos. Este volume perdido seria suficiente para abastecer toda a Região Metropolitana durante pouco mais de 15 anos. E essa situação só tende a se agravar com os problemas causados pelo aumento da atividade de mineração e pela ocorrência de eventos climáticos extremos em maior número", disse Cruz.
As mudanças climáticas apresentam um dos pontos de maior atenção para a saúde do Velhas. Nos mesmos 26 anos analisados, o período seco, que vai de maio a setembro em cada ano, apresentou queda nas precipitações, o que indica um aporte hídrico cada vez menor neste espaço de tempo. No período úmido, de outubro a abril, os volumes de chuva tiveram pouca variação geral – mas a intensidade dessas chuvas sofreram alterações: houve maior volume de precipitações moderadas, menor volume de chuvas fortes e alguns eventos extremos, que provocaram cheias intensas.
Além disso, outra situação que merece cuidado refere-se às águas subterrâneas, principalmente do Aquífero Cauê. A partir de 2005, a vazão retirada do sistema passou a superar a taxa de recarga do aquífero devido ao intenso bombeamento por poços privados e em certas áreas de mineração. Isso prejudica o fornecimento de água destes sistemas subterrâneos, reduzindo a segurança hídrica de toda a RMBH.
A solução para que o Velhas mantenha sua capacidade de abastecimento passa, obrigatoriamente, por medidas de gestão adaptativa para mitigar os efeitos negativos das alterações climáticas. Isso inclui a adoção de medidas de conservação de solo e reflorestamento, o controle da urbanização e do uso do solo, a revisão urgente e profunda da política e dos critérios relativos às atividades de mineração e o desenvolvimento de políticas para mitigar enchentes e secas.
Essas medidas precisam partir de políticas públicas, que trabalhem em conjunto com os diferentes setores, para que Belo Horizonte e as cidades vizinhas não vejam o Velhas perder a capacidade, pouco a pouco, de abastecer as torneiras das casas dos mineiros.
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Foto de capa: Francisco Luz
Apresentação dos dados analisados durante a execução do "De Olho No Velhas"
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